Identidade (des)conhecida.

11.25.2005

Isto quer dizer que...

Isto quer dizer que, vivo como se fosse um fantasma. Isto não é vida não é nada! Há de facto a minha existência fisica mas não há a existência como cidadã. Sem B.I. não existo pura e simplesmente! Porra, eu tenho o direito e o dever de ter um documento que me identifique!!
Eu sei que se tivesse possibilidades financeiras já tinha o Bilhete de Identidade há bastante tempo mas, como não tenho... sou "obrigada" a sujeitar-me a isto?! Se por acaso eu for na rua e acontecer qualquer problema onde apareça a polícia e me peçam identificação, o que é que eu faço?
A última advogada com quem falei, que trabalha na conservatória explicou-me que eu tenho que fazer uma coisa de cada vez, que tenho que ter muita calma, paciência, tempo e dinheiro para tratar de todas as papeladas necessárias. Ora, eu sou auxiliar administrativa, ganho o ordenado mínimo e é com este ordenado que eu vivo praticamente. A vida está difícil para quase toda a gente, é certo, e o meu objectivo com este blog não é estar a lamentar-me da minha situação financeira mas, de facto tenho que confessar que para além de isto não atar nem desatar eu não consigo pagar tudo.
Mais um problema que aí vem, no ínicio de Janeiro vai acabar o meu contrato de trabalho. Estou quase há dois anos na empresa e entrei para lá porque tirei um curso financiado pelo I.E.F.P. em que os últimos 3 meses do curso foram feitos em contexto real de trabalho e onde há a hipótese de se ficar a trabalhar nesse local. Fiz o estágio numa instituição não governamental que vive muito à base do voluntariado e como tal não podem ficar com estagiários nos quadros pois não têm capacidade financeira para o fazer. Entretanto o projecto arranjou - me esta empresa e já lá vão dois contratos.
Aceitaram a minha inscrição neste curso com a condição de eu ir tratando dos documentos necessários e até ao fim do ano apresentar o meu B.I. Até lá, aceitaram a fotocópia do meu último B.I. porque o número que nos é dado no B.I. não muda e assim consegui participar no curso. O problema é que eu não consegui tratar de tudo a tempo. Os meus patrões estão a par de tudo. Se eu assinasse mais um contrato ficava efectiva na empresa. Isso era muito bom mas, infelizmente, a crise também está a afectar a empresa e há muito pouco trabalho. De forma que as probablidades de eu lá ficar não são muitas. Mas, mesmo que a empresa estivesse com muito trabalho e a prosperar creio que eles receiam que eu não consiga obter o B.I. e não me podem lá ter nesta situação. Se isso acontecer eu nem vou ter direito ao subsídio de desemprego!!
A empresa paga-me o passe. Eu vivo e trabalho no centro de Lisboa. Se tivesse passe seria o "L" ou o "L1" que acho que custa à volta de vinte e poucos euros. Mas, como não posso tirar o passe todos os meses compro 4 cartões "Sete Colinas" e carrego cada um para 1 semana. Cada carregamento semanal fica em quase 13,00€. Feitas as contas só em transportes, neste sistema gasto quase 60,00€ por mês. Já me dirigi aos locais de venda de passes e expliquei a situação mas recusam-se a vender-me o passe sem eu mostrar o B.I. actualizado. Ironicamente a última vez que eu tentei comprar o passe foi na estação dos barcos e quem me atendeu foi uma rapariga Brasileira. Foi muito arrogante, fria e desinteressada. Como eu tinha lido nos folhetos informativos do "Lisboa Viva" que os documentos necessários para a compra do passe eram o B.I. ou a Cédula pessoal, eu fui lá e levei a minha Cédula. A rapariga disse-me que a Cédula era só para crianças com menos de X anos (já nem me lembro bem). No meu caso eu tinha mesmo que apresentar o B.I. Mostrei-lhe a fotocópia e a declaração da Polícia. Eu entendo que ela apenas estava a fazer o trabalho dela mas há maneiras e maneiras de o fazer! Foi de tal forma arrogante comigo que eu enervei-me e começei a discutir com ela. Estavam lá dezenas de pessoas para comprar o passe. Muitos deles estrangeiros. Todos saíam de lá com o passe, porque pagando 10,00€ ficava pronto no momento. Eu estive lá horas à espera que chegasse a minha vez. Para nada! A discussão foi de tal forma que ela telefonou à directora do "Lisboa Viva" e passou-me o telefone. Falei com essa senhora e contei-lhe por alto o que se estava a passar e pedi-lhe por favor para abrir uma excepção e aceitar a fotocópia do B.I., ou a Cédula ou o numero de contribuinte ou o de beneficiário para me ser feito um passe mas, nada feito. A senhora não aceitou, nem deixou aceitar e vim embora de lá com o meu namorado praticamente escurraçada pelo segurança e pela menina Brasileira que ainda me disse que eu estava ilegal, e que era uma vergonha estar a mendigar um passe! Lindo, né? Viemos o caminho todo sem dizer uma palavra. Estavamos tão revoltados com a situação e ambos nos sentimos tão impotentes, tão desamparados que nem conseguiamos dizer nada um ao outro. Eu para desabafar e ele por ser a pessoa que depois de mim mais sofre com isto tudo porque me acompanha à sete anos e vê e vive esta realidade comigo sentindo a mesma impotência, a mesma frutração. Estavamos sem palavras.
Ele é Português e se eu me casasse com ele podia obter a Nacionalidade Portuguesa. Mas sem B.I. não me posso casar. Mas como sou filha de mãe portuguesa também tenho direito à Nacionalidade Portuguesa. Os meus pais ao não me ter registado e ao não terem transcrito o casamento deles para Portugal e por terem ambos já morrido sem terem tratado de nada deixaram-me numa embrulhada burocrática tão grande que eu não sei como me ver livre dito! E como me roubaram os documentos e como o meu cartão de autorização de residência caducou eu estou numa situação muito muito muito complicada de resolver e que requer disponibilidade financeira para ser resolvido. Como não tenho isto mais uma vez pergunto: Vou estar toda a vida nesta situação?? Há leis em Portugal para este tipo de situação? Há forma de eu não pagar os documentos que são necessários? E se houver, sem o B.I. como é que eu me inscrevo para pedir auxílio financeiro se eu não existo? Onde me hei-de eu dirigir para tratar disto? Às vezes só me apetece desaparecer.
Quando me refiro a dinheiro preciso de explicar uma coisa: eu consigo no final do mês, por exemplo, tirar uma certidão ou qualquer outra coisa mas, nesta situação é necessário ter disponibilidade para em qualquer altura do mês pagar os papéis que vão sendo necessários ou até mesmo pagar a um advogado pois sozinha já não sei se vou conseguir!!